Ano 11 / Edição 115 - Março 2017
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Pimenta costuma dizer que “cada pessoa que
entra na piscicultura e tem sucesso ele divulga a
atividade para mais cinco pessoas e cada pes-
soa que entra na atividade e não tem sucesso
divulga para cem”. E geralmente quem entra e
não tem sucesso é porque não se preparou para
a atividade. Ainda existe aquela visão antiga e
equivocada que a piscicultura é uma atividade
paralela, complementar, alternativa, precisa-
mos inverter este ciclo, a piscicultura não deve
ser uma atividade paralela, deve ser encarada
como atividade pecuária, do agronegócio, que
reverterá em lucros e para gerar lucro ele deve
ser trabalhada adequadamente.
7. Jornal agroNegócio:
E os impactos sobre
o meio ambiente e a biodiversidade causados
pela atividade, como conciliar a produção em
grande escala com a conservação dos recursos
genéticos aquícolas, em um contexto de aqua-
cultura sustentável?
Prof. Alexandre Benvindo:
Excelente pergun-
ta; há muito tempo ouvimos que a tilápia iria
dominar os rios brasileiros. Ela existe no Brasil
desde a década de 30 e esta invasão de tilá-
pias ainda não aconteceu e provavelmente não
acontecerá. Isto significa que a piscicultura não
trará impactos? Certamente pode impactar o
meio ambiente, mas precisamos considerar
dois pontos: primeiro, a tilápia hoje pode ser
revertida sexualmente e produzir somente ma-
chos, isto é, para evitar caso haja escapes para
os rios da região os danos sejam minimizados,
pois há um poder de reprodução muito baixo.
Os peixes que mais estão chamando atenção
na questão de impactos ambientais são os pei-
xes nativos dos grandes rios. Existem lagos con-
taminados com tucunarés, que não é um peixe
originário do Sudeste, mas da região amazô-
nica. Quando foram introduzidos no sudeste
houve escape e por serem peixes muito vorazes
causaram impactos ambientais. Inclusive o tu-
cunaré não é mais utilizado em piscicultura. O
segundo fator ambiental é a descarga de água,
grandes projetos utilizarão grandes massas de
água, há uma questão de conflito, por isto é
fundamental a outorga da água e o licencia-
mento ambiental. Com base nesse conflito da
água, cada vez mais vem ganhando corpo na
piscicultura o sistema de recirculação de água,
onde o produtor utiliza muito menos água para
produzir seu peixe. Para se ter uma ideia, no sis-
tema de viveiros tradicionalmente conhecidos,
se utiliza de 30 a 60 mil litros de água para en-
gordar 1 kg de peixe. Em um sistema de circu-
lação de água, onde ela é reutilizada, passada
por filtros biológicos e mecânicos, você conse-
gue reduzir para 30 a 60 litros de água por kg
de peixe; havendo uma redução em mil vezes.
Existem tecnologias que estão sendo cada vez
mais adaptadas para a atividade, mas é fun-
damental que o produtor que deseja trabalhar
com piscicultura tenha conhecimento da outor-
ga da água e o licenciamento ambiental.
8. Jornal agroNegócio:
Os piscicultores do
Vale do Rio Doce sofreram forte impacto na
atividade pelo rompimento da Barragem de
Fundão. O que o Senhor pode falar para estes
piscicultores que perderam praticamente tudo
e desanimaram com a atividade?
Prof. Alexandre Benvindo:
Precisamos fazer
um estudo ponto a ponto da situação de cada
produtor, é preciso definir se aquele projeto
que já estava implantado seguia todas as qua-
lificações técnicas apropriadas. A piscicultura
pode entrar neste contexto da recuperação do
Rio Doce. Do ponto de vista social, deve ser
uma atividade para que pequenos produtores
da agricultura familiar possam produzir seu
alimento. Existe uma tecnologia no Brasil, cha-
mada Aquaponia, que é um sistema de criação
de peixes que se associa com a hidroponia,
neste sistema o produtor pode produzir peixes
e hortaliças integradas. Esse sistema não exige
grande extensão de terras nem grande quan-
tidade de água. Do ponto de vista ambiental,
as técnicas utilizadas em piscicultura, principal-
mente para reprodução de peixes, podem e
devem ser utilizadas para reprodução daque-
las espécies nativas. Alguns grupos de pesqui-
sadores da UFMG, da Federal de Viçosa, da
UFLA, dentre outras Universidades, já têm estu-
dos avançados com relação a isso. Você pode
utilizar as técnicas da piscicultura e repovoar
com espécies nativas a Bacia do Rio Doce.
Entrevista