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 Aspectos Sociais

Enquanto parte das propriedades rurais formam ilhas de produtividade e de oferta competitiva, concentrando a maior porção do valor bruto de produção, existe outra, constituída por um contingente importante de médias propriedades com dificuldade de acesso ao principal fator de produção: a tecnologia. Existe ainda grande número de propriedades que se encontram à margem do processo de produção, sem acesso à tecnologia, à assistência técnica e aos mercados. Esses são, em grande parte, responsáveis pela pobreza rural brasileira.

A análise do censo de 2017 conduzida por Souza et al. (2020)1 revela que houve avanço na do valor bruto da produção (VBP). Em 2006, o número de estabelecimentos cuja produção alcançava valor bruto superior a 200 salários mínimos era 27.306, que representaram 51,19% do VBP. Já em 2017, esse número era de 24.791, que geraram 47,11% do VBP. Com relação aos estabelecimentos enquadrados no outro extremo (com VBP entre 0 e 2 salários mínimos), o que se observou foi ligeiro aumento em seu número: enquanto, em 2006, tais estabelecimentos representavam 66,01% do total, em 2017, chegaram a 67,64%. 

A análise englobando tanto a produção quanto as classes de VBP revela que, em 2006 e em 2017, houve uma concentração da produção em um número reduzido de estabelecimentos e uma concentração de número de estabelecimentos nas duas classes de VBP mais baixas, ou seja, entre 0 e 2 e entre 2 e 10 salários mínimos. Isso reforça a constatação de que parte da agricultura brasileira tem se modernizado e se baseado em ciência e tecnologia, ao mesmo tempo em que outra parte não tem sido capaz de acessar adequadamente fatores importantes de uma agricultura moderna, tais como tecnologia, insumos, crédito e mercado. 

Nem mesmo a evolução agrícola extraordinária nas últimas décadas conseguiu incorporar ao mercado mais de 3 milhões de pequenos produtores, que permanecem em diferentes estágios de pobreza e à margem das modernas tecnologias biológicas, mecânicas e de gestão. Seu progresso e mesmo sobrevivência continuarão comprometidos caso políticas públicas para fomentar o acesso a recursos (dentre eles, as tecnologias) não se concretizem com efetividade. Dentre as causas dessa marginalização, destacam-se imperfeições de mercado, educação básica deficiente e pouco acesso a modernas tecnologias e à assistência técnica e extensão rural pública. Ainda que existam bolsões de pobreza em todas as macrorregiões brasileiras, preocupa sobremaneira o Nordeste, principalmente o Semiárido, onde se concentra grande parte da pobreza rural.

O associativismo e o cooperativismo são instrumentos poderosos de superação de problemas de pequenos produtores, notadamente em relação às imperfeições de mercado (aviltamento nos preços de venda de produtos e preços mais altos na compra de insumos). Educação básica, acesso a tecnologias e à assistência técnica e extensão rural são outros instrumentos para vencer a histórica pobreza rural.

As ciências e sua aplicação no setor agrícola, ao incorporar conhecimento e tecnologia, são forças motrizes para a superação dos desafios apresentados e sua transformação em oportunidades de desenvolvimento, levando em conta sempre o poder do consumidor nacional e internacional.

É neste contexto que uma instituição de pesquisa e desenvolvimento de soluções para o setor agrícola brasileiro, como a Embrapa, deve estruturar sua programação de pesquisa, bem como seu papel catalisador das ações dos diversos atores. Além disso, deve mobilizar os demais órgãos públicos para não só apoiar o desenvolvimento tecnológico, mas também auxiliar no desenho de políticas que sejam ancoradas em tecnologias que, além de impulsionar a pujança de nossa agricultura, contribuam para resgatar grande parte dos sistemas agrícolas de produção que hoje se encontra à margem e que, se nada for feito, se afastará cada vez mais, ampliando o fosso que produz tais discrepâncias.

Assim, fica evidente que a tarefa de estruturar uma agricultura sustentável que contribua, de forma efetiva, para prover alimentos, energia, fibras, serviços ambientais e lazer para uma população mundial que deverá atingir mais de 9 bilhões de pessoas em 2050 requer esforço conjunto de governos (estabelecendo políticas adequadas) e da sociedade (estimulando o setor privado a produzir, a comercializar e a processar o que é exigido pelos mercados interno e externo). A ciência desempenha papel fundamental nessa tarefa: desenvolver conhecimentos e tecnologias capazes de assegurar oferta de produtos em quantidade e qualidade suficiente e que sejam, ao mesmo tempo, ambientalmente corretos e socialmente justos.

 

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Credito da Imagem:  Alf Ribeiro Crédito: Shutterstock