Queijaria Santo Pingo conquista habilitação sanitária e Selo Arte, levando tradição mineira para todo o Brasil
Geraldo Nogueira
O feito não representa apenas um marco pessoal para o produtor, mas também um avanço significativo na valorização da cultura alimentar mineira, que ganhou recentemente o reconhecimento internacional da Unesco, que declarou o "Modo de Fazer o Queijo Minas Artesanal" como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Uma história de sucessão, coragem e empreendedorismo rural
A trajetória de Caio começou há apenas três anos, quando, movido pela sucessão familiar, decidiu assumir a propriedade rural da família em Perdizes. No início, a pecuária leiteira era voltada apenas para atender às necessidades da casa. Contudo, os elogios constantes de amigos e familiares quanto à qualidade do queijo produzido motivaram Caio a transformar a paixão em negócio.
“Quando me entusiasmei com a arte do queijo, a vontade era fazer um produto que pudesse ser apreciado por qualquer pessoa. Hoje isso será possível, pois temos um produto com segurança alimentar, cuidando do meio ambiente, com colaboradores treinados e instalações com padrões de excelência. Sem a extensão rural, não seria possível", afirma emocionado.
Da ideia ao selo: o papel decisivo da Emater-MG
Durante todo o processo de formalização da agroindústria, Caio contou com o apoio direto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). A extensionista agropecuária Aline Borges Torino, que atua no escritório local, foi uma das responsáveis por conduzir o produtor pelos caminhos da regularização.
“Os primeiros passos foram informações sobre linhas de crédito rural para ajudar na estruturação da pecuária leiteira. Fico muito feliz porque todo produtor, quando vai iniciar uma atividade, procura o escritório local. Isso demonstra a referência e a credibilidade que a empresa tem", destaca Aline.
O suporte incluiu desde a adequação das instalações físicas, implementação de boas práticas de ordenha e fabricação, elaboração dos rótulos, até a criação dos procedimentos operacionais padrão (POP) e dos mecanismos de rastreabilidade — exigências fundamentais para garantir a segurança alimentar e a qualidade do produto.
Atualmente, a Queijaria Santo Pingo possui capacidade de produzir até 20 peças de queijo por dia, todas dentro dos critérios sanitários e de qualidade exigidos pela legislação.
O Selo Arte: uma janela para o mercado nacional
A conquista do Selo Arte, concedido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), é um diferencial que permite ao produtor comercializar seus queijos em qualquer parte do Brasil, sem as barreiras antes impostas pela legislação sanitária estadual. Para os consumidores, o selo garante que aquele é um produto artesanal, elaborado a partir de leite cru, respeitando práticas tradicionais e, ao mesmo tempo, com segurança alimentar assegurada.
O Selo Arte tem sido uma poderosa ferramenta para os pequenos produtores mineiros ampliarem sua presença no mercado, agregando valor, visibilidade e renda.
Preservação do patrimônio cultural e geração de renda no campo
De acordo com a extensionista da Emater-MG, Lilian Cristina Andrade de Araújo, que integra a Rede de Assistência Técnica em Queijos Artesanais, cada nova agroindústria formalizada representa um passo importante na preservação da cultura mineira.
“Nós, da Emater-MG, ficamos orgulhosos em participar deste processo e crescimento do produtor em diversos aspectos, permitindo a agregação de valor ao seu produto. E, mais do que isso, contribuímos para a manutenção de um saber que é patrimônio da humanidade”, explica.
A Rede tem como objetivo oferecer acompanhamento técnico especializado aos produtores de queijo artesanal em Minas, desde a orientação para adequação sanitária até a viabilização econômica e de mercado.
Queijo Minas Artesanal: muito além do sabor
O Queijo Minas Artesanal, cuja produção é regulamentada pelo Decreto Estadual nº 48.024, é um símbolo da identidade mineira. Sua fabricação é feita com leite integral fresco e cru, mantendo características próprias de cada região — seja pelo clima, pela vegetação ou pelo modo de fazer, passado de geração em geração.
Minas Gerais possui atualmente cerca de 30 mil produtores de Queijo Minas Artesanal, sendo que pouco mais de 2.000 estão formalizados, segundo dados do IMA e da Emater-MG. Este movimento de regularização tem crescido, impulsionado tanto pelo interesse dos consumidores por produtos autênticos quanto pela possibilidade de expansão do mercado através de selos como o Arte.
Um futuro promissor para o queijo mineiro e seus produtores
O registro da Queijaria Santo Pingo é mais do que um certificado: é um símbolo de transformação e inovação no campo. É a prova de que a tradição pode caminhar lado a lado com as exigências sanitárias e de mercado, levando o sabor inconfundível do queijo mineiro para novos horizontes.
E, como reforça Caio César, o caminho está aberto não só para ele, mas para outros produtores de Perdizes e de Minas Gerais que desejam empreender no setor: "É possível, sim, transformar um saber tradicional em negócio sustentável e rentável, mantendo viva nossa cultura e nosso orgulho mineiro.”
Com informações da EMATER-MG